SEM TÍTULO
Há 4 anos atrás passei pelo dia mais triste da minha vida, era Domingo, acordei por volta das 10 horas e estive em amena cavaqueira com o meu marido antes de nos levantarmos pois estávamos a viver momentos de grande felicidade com a minha garvidez (estava grávida de 24/25 semanas de uma menina, o nosso sonho!!).
Levantámo-nos por volta das 10.15 e lá fui eu à casa de banho como é hábito (hábito esse muito mais normal numa mulher grávida!!).
Foi aí que tudo começou...tinha perdido um pouco de sangue e entrei literalmente em pânico (eu que sou uma pessoa calma, estranhei muito esta atitude), chorei, pensei no pior e depois de o meu marido me acalmar lá liguei à minha irmã a contar o sucedido...não conseguiu disfarçar a sua preocupação....fomos rapidamente para o Hospital de Santa Maria onde fui atendida imediatamente...
Fui recebida por um médico espectacular que analisou o sangue perdido e me disse que provavelmente não era nada de grave apenas um “descolamento” da placenta, mas que iamos fazer uma ecografia para tirarmos todas as dúvidas...
Assim que começou a ecografia o médico desviou imediatamente o écran para eu não conseguir vêr!
Perguntei incrédula se havia algum problema ...fez-me uma festinha na face e disse que ia chamar mais 4 colegas dele para analisar a situação...senti-me a desfalecer...passava-se algo de muito grave e eu não sabia o que era!
Passados 3 minutos estava rodeada de médicos que não paravam de falar entre eles com um nervosismo incontrolável...eu que não conheço siglas médicas oiço “não consigo ouvir os BC não há dúvidas ...estamos perante um FM!!!”
A minha cabeça traduziu imediatamente a dura realidade...
“Não consigo ouvir os Batimentos Cardiacos não há dúvidas ...estamos perante um Feto Morto!!!”
Começei a chorar, sabia que já não havia nada a fazer, acalmaram-me dentro dos possíveis e perguntaram-me se queria ser eu a dizer ao meu marido ou se queria que fossem eles...apenas disse que não tinha coragem para lhe dizer, afinal tinha ficado logo grávida no mês a seguir a deixar de tomar a pílula e os primeiros 3 meses onde é “normal” ocorrerem abortos espontâneos há muito que tinha passado...a nossa menina não podia ter morrido...nada justificava isto!!
Foi o nosso mundo que desmoronou, nada do que me disseram tinha importância porque numa altura destas não queremos ouvir nada e nada nos faz atenuar esta dor...
Fiz parto normal para que no meu corpo não ficasse nenhuma marca fisica (foi a explicação que me deram) mas as marcas psicológicas essa ficaram e vão ficar para sempre...
O trabalho de parto foi doloroso porque afinal foi um lutar sozinha, sem forças, sem vontade de ali estar, sem nada...quando a minha menina nasceu...tentei olhar para ela mas a médica disse-me...”não vai vêr..é melhor assim...” Apenas me confirmou que era uma menina e fisicamente era perfeitinha...
Nestes dias que eu defino como os piores da minha vida tive a sorte de ter ao meu lado sempre o meu marido...sei que foi muito complicado para ele, pois além de ter perdido uma filha o meu estado de apatia era realmente preocupante. Duas horas antes de terminarar o trabalho de parto deixaram entar a minha melhor amiga ...ficaram os dois comigo até ao momento da expulsão do feto...foi muito bom ter a presença deles perto de mim num momento tão dificil!
Antes de sair do hospital tive em recuperação num quarto sózinha (toda a euipa foi muito atenciosa e fez questão de me acompanhar)...mas conseguia vêr passar as mamãs super felizes com os seus bébés e eu ali sem a minha mais que tudo...o vazio consumiu-me...e uma parte de mim morreu para sempre...
Saber que a conclusão da autópsia foi que estava tudo bem com a minha menina e com a placenta por isso não encontraram justificação para este desfecho...não ajudou em nada...preferia que tivesse um problema especifico ao qual eu me iria agarrar para ganhar forças...
Este ano é a primeira vez que vivo esta altura de forma mais calma e passiva, porque resolvi que teria de ser assim, partilhar convosco esta dor também me ajudou e ponderei muito se o fazia ou não...Fi-lo porque quero transmitir a todos os que andam atrás de um sonho que esperar é uma virtude, é preferível esperar e alcançar que perder tudo da forma que eu vivi...Sei que estas palavras vão tocar de forma diferente a quem viveu este drama e é a estas pessoa que quero dizer que apesar de tudo a vida não acaba aqui...hoje tenho uma filhota linda com 2 anos que é tudo para mim...temos de acreditar que é possivel sermos felizes outra vez mesmo que essa felicidade nos pareça impossível...
Aprender a lidar com esta situação é talvez o mais complicado de tudo mas eu finalmente aprendi a fazê-lo...
Beijinhos a todos e porque hoje resolvi partilhar um pouco de mim...do mais intímo do meu ser aqui vos deixo também o meu verdadeiro nome...
Sandra (kikas)